Do Limbo
Do limbo não se enxerga direito. Lá a mente permanece em estado de impertinente confusão. Entre raios e trovões você tenta pensar na sua vida inteira e ter um diálogo com Deus. Porque os trovões estão lá, mas Deus também está. Então você tenta correr para a luz. Mas é tudo desconexo no limbo, as escadas de algodão se desfazem enquanto você pisa e você está sempre fazendo as malas. Quem sobrará na casa desta vez? Quem te aguarda no novo abrigo? Você primeiro precisa chegar lá, mas a sua mente está em outro lugar, não há possibilidade de foco, e você que nunca teve muito foco, está finalmente em um quadro que faz sentido. A casa do seu avô está como quando ele era vivo. Cheiro de queijo. Os queijos enormes em cima das paredes que não vão até o teto. E o pote com aquele barulho gostoso de água fria e a casa cheia de gente. Teu amigo aparece lá, muito bem vestido, lindo mesmo, com a mesma cara de 23 anos que ele tinha quando morreu. Ele quer te mostrar uma coisa, e quando você vê é o te